quarta-feira, 14 de março de 2012

O caminho das flores



Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.     Cânticos 2: 12



Outro dia alguém me disse que  se emocionou com uma história que escrevi e que precisava escrever mais, sobre minhas  experiências pessoais.
Isso me deixou feliz, mas falar de experiências pessoais nem sempre é fácil, pois as vezes vem um leque de coisas na cabeça e com ele algumas lembranças ruins, acompanhado de algumas lagrimas. Mas, resolvi que contarei algumas das minhas experiências. Se, de certa forma servir pra ajudar alguém que passa ou passou pela mesma situação já esta de bom tamanho.
Hoje resolvi falar sobre as voltas que vida dá.
Como é triste e dolorido você se sentir inferior. Só quem passa por isso sabe como dói quando alguém desfaz de você. Seja porque é pobre, gordo, feio, de outra religião ou por qualquer outro motivo...
Certa vez, era véspera de natal e fui passar o final de ano na casa de meus avós, resolvi fazer uma faxina só pra agradar minha vó. Minha vó não queria, mas eu sabia que ela ficaria feliz... Estava encerando o chão da sala de jantar, quando chegaram meu tio e minha prima. Entraram com presentes para meus avós e pararam próxima a mesa, se abraçaram, desejaram um feliz natal, conversaram, riram e eu fiquei ali parada quietinha num canto esperando eles saírem, mas era como se não estivesse ali. Até que minha vó os convidou para ir pra cozinha. Abaixei minha cabeça, não queria chorar, mas não consegui conter as lagrimas, me senti nada, como se não existisse.
Na época era uma adolescente, meu pai era o filho mais pobre da família do meu avô e alcoólatra, o que fazia com que a família o deixasse de lado, geralmente nas reuniões familiares costumava beber e sempre acabava brigando com alguém ou fazendo algo que a gente sentia vergonha ou medo. Talvez fosse esse um dos motivos que minhas primas desfaziam da gente.
Mas continuei ali a encerar o chão e lagrima boba correndo. Meu tio voltou para pegar algo e meio que percebeu, eu tentei disfarçar, mas ele se aproximou meio sem graça e disse: Oi nega você esta ai, venha aqui que quero te dar um abraço e desejar um feliz natal. Não foi somente desta vez que me senti inferior, que senti que fizerem de conta que não era nada...
Certa vez fui de férias na casa desse meu tio, porque minha prima havia insistido, tínhamos a mesma idade (16 anos). Mas me senti muito mal na casa deles por diversas coisas que aconteceram. E  lembro-me bem de um dia que estava olhando o álbum de fotos. Vi a praia, as dunas, fiquei encantada, queria ver mais fotos, meu sonho era conhecer o mar. Mas minha prima tomou o álbum, guardou a fotos  e me disse: Pra que você quer ver? Você nunca conseguira ir numa praia mesmo, melhor você nem ficar olhando...
O tempo passou... E  vou a praia e praticamente vou todos os anos a praia.
Talvez as pessoas não percebam, não façam por mal. Mas muitos não percebem como dói, quando alguém desfaz de você. Somos todos filhos de um mesmo Deus. E não podemos olhar e tratar bem somente aquelas pessoas que nos interessam.
Hoje quando penso em certas coisas que passei..
Eu agradeço a Deus porque o sofrimento, as decepções e a tristeza, me fizeram ser mais humana, me faz ter compaixão e entender muitas pessoas. Por isso procuro tratar todos da mesma forma, procuro olhar além das aparências.
Eu sei que pra Deus somos todos iguais.
Assim como sei que hoje as pessoas podem fazer você sentir um nada, sua vida pode estar de ponta cabeça e pode parecer que  tudo dá errado.
Mas a vida da muitas voltas e quem esta por cima, amanhã pode estar por baixo. E nessas voltas que a vida dá, cuide pra não pisar nas pessoas, pra não se tornar amargo, frio, egoísta e fazer com o outro aquilo que um dia fizeram com você.
Pois se lembre de que nada é eterno...
Quando você estiver caminhando pela estrada da vida jogue sementes de flores com aromas agradáveis ao invés de semente de espinhos. Porque se um dia  você precisar voltar pra trás.  Volte pelo caminho das flores e não pelo caminho dos espinhos.


Ana L. Steiner - 14.03.2012

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